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Voar com a Dança


Quem dança, vive.

Quem dança, vive empoderado.

Quem dança, vive empoderado pois conecta corpo e mente numa explosiva energia criativa.

A sexualidade também pode ser assim.


Antes de ligar estes dois termos, teremos que ver quais os seus significados.


Segundo o dicionário Priberam, “dança” significa: passos cadenciados, geralmente ao som e compasso de música; movimento incessante. Indo ao verbo “dançar” encontramos também: mover o corpo de modo cadenciado; saltar, mover-se, girar; não estar firme, executar, ser volúvel.


Quanto à definição de sexualidade, temos: qualidade do que é sexual; modo de ser próprio do que tem sexo. Vendo a definição de “sexo”, encontramos: Diferença física ou conformação especial que distingue o macho da fêmea; conjunto dos indivíduos que têm o mesmo sexo; relação sexual.


Não posso deixar de notar que tanto “dança” como “sexualidade” são palavras femininas. Porque será?


Neste mundo onde corpos despidos (especialmente corpos femininos) são hipersexualizados, parece que “sexo” significa apenas o físico. Mas olhando para a definição, percebemos que também pode ser um encontro de corpos e mentes que se ajudam a proporcionar prazer mútuo (ao menos é o que deveria acontecer). Por isso a sexualidade pode ser uma forma de relação entre animais, o que usam para se juntarem numa explosiva energia criativa para dar vida um novo ser (ou apenas gerar serotonina aos participantes).



Continuo contando um pouco da minha experiência como dançarina e exploradora sexual (uma profissão por mim inventada, a qual exerço apenas comigo própria e com o meu namorado).

A dança movimenta-nos o corpo. Saltamos e giramos sem parar, sentimo-nos leves e livres. Com todo este desporto e criatividade geramos também serotonina e tornamo-nos mais felizes e calmos.


Por isso tanto a sexualidade como a dança geram felicidade. O que há mais em comum?


Aos 13 anos, eu era uma menina muito tímida e insegura. Tinha um medo tremendo de falar em público, de conhecer novas pessoas, de ser o centro das atenções. Foi também nesse ano (2008) que mudei pela quarta e última vez de colégio, entrado para o oitavo ano.


Apesar de ter mudado muito de colégio, a tarefa de fazer amigos não tinha ficado mais fácil. Se tanto, ficou mais difícil. Por isso, refugiei-me para o mundo mágico e fantasioso dos livros.


Ficava a ler durante os intervalos e gostava de estar sozinha (ou não gostava, mas a ideia de fazer amigos e dar-me a conhecer aterrorizava-me mais do que estar sozinha).


Certo dia, pouco depois de o ano letivo ter começado, um contínuo da escola veio ter comigo.


Era tímida mas falava com os auxiliares da escola, quando vinham ter comigo para perguntar se estava tudo bem. Era mais fácil (por estranho que pareça). Este contínuo, sempre muito simpático e com as suas piadas divertidas, disse-me que havia aulas de dança jazz na escola e sugeriu-me ir ver uma aula. Os meus pensamentos estavam por todo o lado. “Dança?” pensei. “Eu não vou dançar, muito menos à frente de muitas pessoas, tenho medo!” No entanto, algo me deixou curiosa e fui então assistir a uma aula. Foi aí que a minha aventura dançante começou.


A professora de dança era a Ana Reis, irmã do falecido Zé Pedro Reis dos Xutos e Pontapés (uma perda enorme de um enorme artista). Ao conhecê-la, criei em pouco tempo uma relação muito forte com ela. Quem diz que o professor é o motivo pelo qual se gosta ou não das aulas, tem toda a razão. Por causa dela, comecei a adorar dançar e a precisar de dançar, pois ali encontrei uma forma de me expressar que não requeria palavras. Ela era uma professora exigente mas ao mesmo tempo bondosa, empática, percebia se algo não estava bem emocionalmente connosco e servia quase como nossa psicóloga e mentora. Como terapeuta de reiki, ela também nos ajudava energeticamente. Lá aprendi jazz, broadway jazz, ballet e um pouco de salsa (a dança, não o condimento). Tenho boas recordações da aulas e das festas de final de ano que fazíamos. Tínhamos aula 3 vezes por semana e no final do ano tínhamos 3 coreografias para apresentar a toda a escola. No dia das apresentações, fazíamos sempre uma meditação guiada por ela. Na altura nem pensei muito sobre o porquê, mas olhando para trás, percebo que fez muito sentido. Com a dança, comecei a não ter medo de me expressar, mesmo perante uma multidão. Ao mesmo tempo, podia pôr a minha energia criativa em ação. Com ajuda da professora Ana, criei a minha própria coreografia que depois pude apresentar no final do ano, e com o seu encorajamento, criei e liderei a primeira flashmob na minha escola. A dança ensinou-me a ser mais confiante de mim e das minhas habilidade e a sentir-me mais empoderada. Muito obrigada Ana, por ter mudado o rumo da minha vida para o melhor.


Depois do 12º ano, saí da escola onde estava e estive 1 ano e meio a aprender alemão na Suíça e a trabalhar, antes de entrar para a faculdade. Queria continuar a dançar, mas queria experimentar algo mais desafiante. Depois de uma pesquisa na internet, decidi que queria experimentar pole dance, dança do varão.


Os meus pais ficaram apreensivos ao início, pois o pole dance aqui em Portugal ainda é muito associado ao striptease. No entanto, deixaram-me ir e na escola para onde fui encontrei a que viria a ser minha professora de pole durante muitos anos, a talentosa Joana Silva.


Ao ver o que ela fazia, e a forma como ela dançava, percebi que ia ser muito difícil chegar àquele nível. No entanto eu estava preparada para lutar. Nesse sentido, esta dança empoderou-me, pois desafiou tudo o que conhecia da dança jazz e fez-me chegar a novas alturas (literalmente).


Quanto mais treinava, mais percebia que esta dança tinha algo que o jazz não tinha: o poder de libertar o nosso poder feminino, neste caso, o meu poder feminino. Quanto melhor me tornava, mais confiante me tornava a mostrar o meu corpo quase nu (pois o outfit de uma pole dancer limita-se, por necessidade, a um top/soutien e a uns calções/cuecas). Sentia-me mais forte (e fisicamente viam-se diferenças) e os movimentos que podia fazer nesta dança abriram-me portas à dança como forma de mostrar a minha sensualidade e de criar uma dança de cariz sexual. A própria natureza desta dança é usar o varão como parceiro. Um varão. Algo comprido e duro (não sei se me estou a fazer entender).


Criando uma metáfora em volta deste tema, eu diria que o varão é a energia masculina (que pode vir de um homem ou uma mulher), está assente à terra, está estável e está lá para nos suportar e apoiar e para nos ajudar a voar (literalmente). A pole dancer é a energia feminina (que mais uma vez pode vir de um homem ou de uma mulher), que precisa de voar, de se expressar como um todo, de ser livre, que é forte mas instável, que gira, salta e move-se. Estas duas energias convergem e complementam-se, criando uma relação explosiva de energia criativa e sexual entre dois seres.


Por isso, a dança e a sexualidade, no meu caso, complementam-se. Um não há sem o outro.


E consigo agora perceber porque é que “sexualidade” e “dança” são palavras femininas. Porque sem a energia feminina nenhuma delas existiria.


Para mim, a dança, o pole dance em especial, é a arte de viver em movimento com o mundo. É a arte de auto-empoderamento. É o perfeito momento para expressar a minha sexualidade, sem ter medo absolutamente nenhum, pois sinto-me confiante e forte, sinto-me poderosa e livre.


Quem quiser alcançar a liberdade dentro de vós, recomendo a experimentar uma aula de pole dance (com a minha professora, a melhor professora de sempre!). Não é preciso ser forte, é apenas preciso querer ser forte. Acreditem, vai mudar a vossa vida.

Não tenham medo de voar. Simplesmente… voem!



Teresa Leónidas, Bailarina de Pole Dance misturado com um pouco de Jazz.


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