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Uma Barriga Renovada, por Andreia Lima


6 de Outubro, Dia Mundial do Ostomizado


Andreia Lima, 30 anos, vive em Almada, de signo caranguejo, é ostomizada há sete anos. Vivia “presa” em casa devido a uma colite ulcerosa.


Foi sempre uma jovem saudável, apesar de ser asmática. Porém, começaram as surgir as primeiras complicações de saúde, após a morte da sua avó, pessoa mais próxima de Andreia. Começam os primeiros sintomas de colite ulcerosa.


O diagnóstico da doença incapacitou-a, ao ponto de ter sido internada de urgência.

Andreia é hoje o exemplo de como a doença não tem de ser sentença de uma vida passada, entre a depressão e agonia.


A doença esteve cinco anos ativa, limitando a sua qualidade de vida. Esta jovem tomou a decisão de ser operada para ficar ostomizada sabendo que, para o resto da sua vida, seria acompanhada de um saco de colostomia. Para a maioria da nossa sociedade, a mudança seria vista como um pesadelo. Para Andreia foi um abrir de portas para um regresso à normalidade.


Nesta entrevista ao Love with Pepper, Andreia conta-nos como é ter uma doença crónica em Portugal há sete anos, e de que forma é que o saco afetou a sua autoestima e a sua sexualidade.


Como nasceu o seu blog “Uma Barriga Renovada”?

O blog nasceu com a finalidade de ajudar a desmistificar as ostomias e as doenças inflamatórias intestinais. A ideia ocorreu-me quando estive internada durante seis meses.


O porquê desse nome?

O nome surgiu no meio de tantas operações, a minha barriga estava totalmente, modificada e “destruída”, porém cheguei à conclusão que apesar de toda essa destruição existia uma renovação muito mais que exterior e com ajuda dos enfermeiros acabou por ficar.


O que é uma colite ulcerosa?

É uma doença inflamatória intestinal crónica e autoimune, que acaba por ir buscar ao organismo outras doenças. Torna-se bastante limitativa, quer a nível físico como psicológico.


Como se reage a um diagnóstico destes?

Não me recordo, mas acredito que reagi da mesma forma a tudo que me acontece na vida; se tenho um problema, tem de ser resolvido o mais rapidamente possível. No meu caso, não foi nada fácil. Foram cinco anos muito desgostosos, sempre a tentar melhorar, e de certa forma consegui.



Como foi ouvir a palavra ostomizada pelo médico?

Eu já conhecia as ostomias, fui eu que a solicitei, num ato de desespero. Sabia que existia um saco para a zona abdominal que poderia vir a mudar a minha vida e sobreviver a esta doença. Foi nisso que me foquei para conseguir estar aqui mais tempo.


Procurou ajuda psicológica?

Na altura, quando estava internada, foi-me facultado um psiquiatra, mas entendi e decidi que tinha que lidar com a situação, exatamente da forma como estava a acontecer, portanto, não aceitei essa ajuda. Se fosse hoje aceitaria, porque todos nós temos essa necessidade.


Tinha conhecimento que ia ficar sempre com o saco?

A ideia inicial é que seria uma situação provisória, no entanto, devido ao histórico de cirurgias que correram menos bem, optei por ficar com ele para sempre.


Como foi antes e pós-operatório?

O antes foi tranquilo porque já estava numa fase muito critica. Na fase pós-operatório tive imensas complicações; seis meses de internamento e operada vinte e quatro vezes, sendo que, o período de recuperação entre as cirurgias era de quinze dias. Não foi um processo fácil, por ser tão doloroso e lento. Considero que aceitei a situação, pois quando acordei com o saco, foi como se tivesse nascido com ele. Ansiei muito por o ter, pois consegui melhor qualidade de vida.


Quantas vezes tem que mudar o saco por dia?

Depende muito, pois há vários tipos de ostomias. No meu caso, que é uma ileostomia em que só tenho o intestino delgado e não é completo, tenho de esvaziar o saco, algumas vezes por dia e mudar uma vez por semana, mas é muito relativo.


Qual é o ponto menos positivo do saco?

Talvez sejam alguns percalços ou acidentes que aconteçam durante a noite, o que é certamente um incómodo.


Como vê, sente e lida com o seu corpo, depois de ter o saco?

Antes de ter o saco era uma pessoa com autoestima muito em baixo, mas quando fiquei ostomizada a meu brio aumentou, comecei a amar o meu corpo como tinha amado, foi uma descoberta.



Quais as suas preocupações, angústias e problemas relativos às vivências da intimidade, afetiva e sexual?

Na altura, como tinha um companheiro, receava que ele não aceitasse esta minha nova realidade. Um dos meus receios é que tivesse algum acidente no meio da relação sexual; esse medo hoje ainda permanece.


De que forma é que o saco lhe alterou a sua autoestima?

No meu caso, devolveu-me autoestima e qualidade de vida.


Como é a sexualidade de um ostomizado?

Perfeitamente normal! Não tenho qualquer tipo de tabu, ou vergonha. A minha vida sexual é exatamente igual, ou melhor, do que tinha antes. Tem de haver muita comunicação com a pessoa que está connosco para que tudo corra da melhor forma.


Na altura que foi ostomizada achou que fosse o fim da sua vida sexual?

Nunca achei que fosse o final, tinha os meus receios devido às cirurgias, à parte ginecológica, mas por ser ostomizada, não! O meu maior receio era que os meus companheiros não aceitassem e que existisse algum constrangimento em relação ao saco, mas como sempre houve muita comunicação, procurei transmitir confiança e conhecimento.


Numa relação amorosa, como é que é relacionar-se com alguém, depois de ter sido ostomizada?

É um processo em que tenho de falar abertamente sobre a minha condição de saúde, pelo facto de usar um saco na zona abdominal. Tento transmitir confiança, que não há qualquer tipo de problema, de dor e que, a probabilidade de me magoarem é mínima, mas sem dúvida alguma a comunicação é fundamental.


O que mudou na sua rotina?

Antes de ser ostomizada estava presa vinte e quatro horas numa casa de banho. Esta foi uma das rotinas que mudou. A outra, foi a higienização do meu saco, aliás veio devolver-me as rotinas da minha vida no geral.


Como foi o processo de aceitação deste problema?

Enfrentei desde início a realidade, não tive de passar pelo o processo de aceitação. Mas como referi, quando acordei ostomizada, foi como se tivesse nascido com o saco.



Sente-se uma mulher segura a nível sexual?

Sim, muito segura! (risos)


Qual a diferença da Andreia do antes e o de agora?

A Andreia do antes era uma miúda totalmente fechada, sem voz. A de hoje, está a descobrir-se muito comunicativa, com uma teimosia e coragem muito positivas, que não se deixa abater, mas não deixa de ser frágil.


Sexualmente realizada. Vida feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda?

Concordo a 100%, porque faz todo o sentido e isso completa.


O sexo é bom?

O sexo é muito bom e faz bem à saúde! (risos)


Andreia Lima, Embaixadora da GREATIAM

Empreendedora na Glow Design

Blog: www.umabarrigarenovada.blogspot.com



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