TOMÁS MY SPECIAL BABY, por Andreia Paes de Vasconcellos
- LoveWithPepper
- 21 de mar.
- 5 min de leitura
21 de Março de 2025, Dia Mundial da Trissomia 21
Andreia Paes de Vasconcellos, empreendedora, casada, mãe de quatro filhos e um especial, o Tomás, de 10 anos, que tem Trissomia 21.
Uma mulher ambiciosa que leva a vida de uma forma muito positiva, que move tudo e luta muito pela família.
No momento que o Tomás nasceu percebeu que ele ia ser o maior desafio da sua vida. Aceitou, adaptou-se e encarou a realidade sabendo que o seu papel de mãe seria crucial na vida da criança. Apesar da sua fragilidade, sentia-se uma mulher feliz com a vida e sempre tentou lutar e trabalhar pelo mais difícil, que é a inclusão, para que a sociedade aceite a deficiência.
Conta que o seu filho vê a vida de uma forma pura e que tem uma bondade intrínseca. Realça o seu enorme carisma, a empatia que tem pelos outros e a magia do seu interior. Fora do contexto familiar, o Tomás é muito sociável, atencioso às fragilidades do outro, amigo do seu amigo, adorando explorar o mundo com os seus próprios olhos.
Andreia diz que a sua missão de vida é fazer os seus filhos felizes.
Nesta entrevista ao Love with Pepper, abre o seu coração como mãe e aconselha a que nunca devemos desistir de sermos felizes.
De que forma é que acha que vai lidar e conversar com seu filho sobre mudanças no corpo, como puberdade e higiene pessoal?
Com muita naturalidade, dizendo que o ser humano é assim, que nascemos bebês e vamos crescendo e com isso o nosso corpo vai mudando, vai-se adaptando e as necessidades também se alteram. Tem que ser conversado de uma forma muito leve, para que eles também sintam essa vontade de falar connosco e que não seja um problema ou um tabu.
Alguma vez a alertaram ou sensibilizaram para as mudanças pelas quais o seu filho irá passar na adolescência?
Não penso muito no futuro, o futuro faz-se no presente. Sei que a adolescência não é fácil só por si, e uma criança com uma patologia como a do Tomás, dificulta um bocadinho o processo. Acho que o caminho faz-se caminhando e não gosto de estar a viver constantemente na pressão e nos problemas do futuro, porque podem ser ou não um problema.
Como é que vê o futuro do Tomás, designadamente a nível amoroso?
Quero muito que encontre uma pessoa com respeito, que o valorize e acredito que ele vai encontrar.
Se um dia o Tomás casar, como é que acha que irá reagir?
Super bem, é um dos meus grandes objetivos, no sentido em que ele atinja a sua independência. Nessa verdade é quase como uma missão cumprida e é nisto que trabalho com ele diariamente. É para que ele alcance essa independência e que seja um adulto como todos nós.
Como encara a possibilidade do seu filho vir a ser pai?
Com naturalidade. Se for essa a vontade dele, cá estou eu para acolher os meus netos.
Quais são os maiores receios que sente em relação ao domínio afetivo do seu filho?
O que eu sinto mais receio é na parte da não aceitação, de haver uma exclusão dele, na adolescência ou até numa fase mais jovem. Tenho aqui algum receio que ele acabe por não acompanhar os seus amigos e, de alguma forma, fique mais sozinho. E receio o bullying, que é o mais comum em todas as crianças, sejam portadoras de alguma deficiência (as mais vulneráveis) ou sem deficiência.
De que forma é que as escolas /instituições fornecem um suporte adequado para educar jovens com deficiência sobre sexualidade?
A sexualidade ainda é muito tabu. É um assunto que as escolas devem começar a abordar, mas de forma mais natural, devem falar de sexualidade como falam de outros assuntos.
Que valores tenta incutir ao seu filho?
A união, a família, a honestidade, a empatia pelo próximo, estes são os valores principais. Mas a união familiar, para mim, é um dos valores mais importantes do ser humano. Porque é na família que tudo começa e que tudo acaba. E é preciso eles sentirem-se acolhidos na família que têm, para depois terem uma boa estrutura emocional, independentemente de terem 20, 30, 40 ou 50 anos.
Acha que existe informação disponível para pais sobre saúde sexual de jovens com deficiência, como a Trissomia 21?
Acho que não existe, mas também ainda não fui procurar esse tipo de informação.
Na sua opinião, os nossos profissionais de saúde estão preparados para abordar questões de saúde sexual com pessoas com trissomia 21?
Não, porque a maioria destes profissionais acham que as pessoas com trissomia 21 não são parte integrante da sociedade. E estão muito longe disso, porque acham que elas são eternos bebés, quando não são, crescem, desenvolvem-se e tornam-se adultos.
Que tipo de recursos tenta encontrar para ajudar no desenvolvimento intelectual do Tomás?
O Tomás faz terapia há muitos anos, desde do seu primeiro mês de idade, ou seja, sempre trabalhei na prevenção. O futuro e o presente estão juntos lado a lado, mas tudo o que é trabalhado agora com o Tomás é para preparar a fase adulta em que as coisas estejam adquiridas.
Qual é a sua opinião sobre a inclusão do tema "sexualidade" em programas educacionais nas escolas para pessoas com deficiência intelectual?
Acho que não existe atualmente. Portanto, é todo um caminho para desenvolver. É um assunto que deve ser falado de forma transversal. É um tema que se deve abordar com cuidado, mais atenção e de forma individual, porque não somos todos iguais e nem temos todos a mesma abertura para entender determinados assuntos.
O que se aprende como Mãe de uma criança com esta condição e de que forma se consegue ajudar a entender melhor a importância de educar e aceitar estas pessoas?
Aprendi a ser uma mãe melhor. Não que não fosse, mas o que acontece é que estou mais aberta para as dificuldades do outro, para aceitá-las, para perceber que cada criança tem o seu ritmo, que não temos que ser todos iguais.
Como Mãe do Tomás o que é que ele lhe consegue dar, o que consegue aprender com ele?
Aprendo muito com o Tomás. Ele ensina-me a ver a vida de uma forma muito simples e muito mais fácil. Ensinou-me a valorizar sempre as pequenas coisas da vida e a ser feliz com o básico.
A nossa sociedade costuma infantilizar pessoas com trissomia 21. Como é que reage a isso?
Venho a preparar o meu filho para que ele não tenha comportamentos desajustados para não o verem como alguém infantil e não o desvalorizarem. Portanto, faço o trabalho inverso.
O AMOR vence o preconceito?
Sim vence e cura, porque o preconceito começa na família. E se nós, enquanto família, tivermos o amor suficiente e vivermos livres do preconceito, não temos como falhar.
Andreia Paes de Vasconcellos, CEO Desenvolve-T
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