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Simplesmente #AMOR, por Fernanda Mendes




Fernanda Mendes, 49 anos, casada e nasceu intersexuada. Hoje é uma mulher de sucesso, empresária, oradora motivacional e parapsicóloga em que ajuda as pessoas a resolver as suas fobias e problemas de vida.


Portadora de 2 sexos, intersexuada em que no seu caso os seus testículos eram os ovários, o pénis era o útero e na fase da puberdade começam a desenvolver mais os cromossomas femininos e onde à mais predominância destes e onde as mamas começam as crescer e surge o aparecimento de uma cavidade muito estreita e pequena que é a vulva e formou-se um pequeno lábio vaginal.


 Registada como homem, mas sempre se sentiu afeminada e a sua essência como mulher estava lá. Foi desde sempre rejeitada pelo pai e viveu num inferno durante 17 anos, em que constantemente existia descriminação, preconceito e violência. O seu refúgio era a música e sonhava que um dia tudo iria mudar.


Aos 19 anos faz a mudança clandestinamente, tiraram-lhe os testículos e fizeram uma redução peniana o que complicou a sua intimidade e vida sexual.


Apesar da mágoa não consegui perdoar o seu pai de todo o mal que lhe causou, mas apagou da sua memória uma grande parte dessa tortura toda. Grata à sua mãe, por ao fim de 27 anos ter descoberto a sua verdadeira identidade e ter deixado o seu progenitor e onde começou a sua luta e uma nova vida.



Hoje sente-se uma mulher livre que luta pelos seus direitos e só quer aceitação por parte da nossa sociedade.


Nesta entrevista ao Love with Pepper, Fernanda abre o seu coração e diz que para viver as adversidades da vida é só com AMOR.

 

Para si o que é uma pessoa intersexual?

É uma pessoa que nasce com um pénis e uma vagina interior.


Como era o ambiente no agregado familiar?

A minha Mãe era vítima de violência doméstica por parte do meu Pai que era militar. Era um clima de terror, austero e depois ele tinha amantes, prostitutas para além de ser traficante de droga e diamantes, é aí que começa a descriminação. E quando existe um filho diferente, tinha que me isolar do mundo e viver no meu próprio quarto, porque ninguém podia saber que eu nasci intersexuada.


E como foi crescer dentro da violência?

Tive vários traumas como fobia social, eu não sabia relacionar com outros seres humanos. Eu vivia basicamente dentro do meu próprio quarto e costumo dizer que era uma menina presa no porão, porque o meu Pai não queria que me desse ao mundo.


Quando entendeu que algo não estava bem consigo?

Foi a partir dos 10 anos, que comecei a ter comportamentos femininos e convivia muito mais com meninas. Os meninos confundiam-me com uma menina e quando a professora chamou o meu Pai à escola e disse-lhe que tinha comportamentos homossexuais. E foi aí que ele me levou ao médico de família e depois de me fazer os exames necessários chega-se ao diagnóstico que sou hermafrodita. Começou aí o meu inferno aos 10 anos.


Na área dos genitais sentiu que era diferente?

O meu pénis não desenvolvia, era minúsculo. E também sempre fui extremamente magra e não tinha um desenvolvimento normal, mas o médico dizia que foi pelo facto de ter nascido com os dois sexos.


Como foi chegar a um diagnóstico?

Como era muito novinha, desconhecia a palavra hermafrodita. Foi através de uma aula de ciências da natureza que descobri que era como os caracóis, que até podia engravidar de mim mesma. Quando cheguei a casa questionei o meu Pai, ele levou-me ao médico de família, e levei porrada, rapou-me o cabelo. E começa aí a minha perseguição e tortura.


Tendo em conta que sempre teve o lado feminino mais evidenciado em si. Como foi lidar com o aparecimento de barba?

Foi a pior fase da minha vida, porque o meu Pai subornou o médico de família para me injetar hormonas masculinos, testosterona pura em que era injetável todas as semanas. Aquilo afligia-me e incomodava-me muito e questionava-me porquê que os outros meninos, não tinham, e eu estava cheia de pelos, ao ponto de usar camisola de gola alta e por vezes rapava-os. Não queria que ninguém me visse assim, tinha vergonha de mim. Aqueles pelos não correspondiam à minha realidade, tanto que cheguei a colocar álcool no meu corpo e queimei-me.  Foi aí que a minha Mãe começou a ver a minha realidade.


Como e quando é que teve a primeira consulta que lhe diagnosticaram como pessoa intersexuada?

Foi quando comecei a fazer coloides no rabo, as glândulas mamarias a crescerem e muitos pelos a taparem tudo. E olhava ao espelho e questionava, quem era eu.  E como não tinha o pomo de Adão e a minha voz era muito afeminada e os pelos todos no meu corpo devido aos hormonas masculinos que me injetaram não era normal. Começaram a alertar a minha Mãe, foi então, que ela levou-me a um médico particular aos 16/17. Quando ele me vê pela primeira vez diz que o crescimento do meu peito pode ser uma disfunção hormonal, pensando sempre que era uma rapariga e estava na puberdade. Mas qual o espanto que a minha Mãe disse que era um rapaz. Depois de ser examinada e fazer exames chegou-se ao diagnóstico: sou uma pessoa intersexuada. É aí começaram tratamentos, transição e a mudança.



Alguma vez menstruou?

Sim, quando o meu Pai foi embora veio a minha primeira menstruação aos 17 anos. Foi quando começo a tomar hormonas femininas e que vinham pela cabeça do pénis.


Enclausurava-se no seu corpo?

Sim, basicamente cheguei a um ponto que só vestia roupa muito discreta para poder esconder a minha anatomia. Dentro do meu quarto sonhava, cantava a imaginar que era a Madonna e vestia o que queria.


Qual a sua orientação sexual?

Sempre gostei de homens e quando dei o meu primeiro beijo, foi a um menino, que tinha 11 anos, mas ele pensava que eu era uma menina, mas quando lhe disseram que eu era um menino fugiu e nunca mais o vi.


Como era a sua vida amorosa?

Vivia amores platónicos, em que gostava de pessoas e não podia declarar-me. Era apaixonada pelo meu melhor amigo da escola, em que ele sabia de tudo em relação a mim, mas ele via-me como menino mas afeminado. Fazia de tudo para ele não gostar de menina nenhuma.


Como foi a sua primeira vez, ainda tinha os dois sexos?

A minha primeira a vez, na minha intimidade era não tirando a cueca, mas havia penetração porque existia lá um buraco na sua cavidade e mesmo não querendo que ele me tocasse. Tinha prazer sexual, libido, desejo e atingia o orgasmo facilmente.


Praticava a masturbação?

Sim, masturbava-me, acariciando, encostando a um boneco ou uma almofada e a  roçar a cueca na genitália. O prazer era imenso e atingia muito facilmente o orgasmo. Não consegui tocar no pénis, isso repugnava-me.


Fez a cirurgia de mudança sexo? Visto que o seu corpo correspondia ao de uma mulher?

Foi em 2018, eu sempre o vi, simplesmente sempre me escondi! Achei que não estava perfeito, havia cicatrizes e a minha vagina era aquilo que se chamava mulher ferradura e depois existiam demasiados pêlos que e escondiam.


Como foi a sua primeira vez após a segunda mudança?

Basicamente o sexo era com luz apagada e não se via nada, mas existia penetração. Tinha prazer, libido e desejo, tudo funcionava. Praticava todo o tipo de sexo oral, anal e vaginal, apenas não deixava fazerem-me oral.


Como lidava com as transformações físicas do seu corpo após a terceira cirurgia de mudança?

Muito complicado, porque eu fui a segunda mulher com 2 sexos a ser operada. Fui operada no privado, paguei 8500 € por um serviço clandestino em que estive as portas da morte. Correu tudo muito mal, o médico fez-me uma vagina com 12 cm de profundidade, colocou o resto com pele de intestino, depois aperfeiçoou os lábios, mas o clitóris estava muito inchado, não estava perfeita. Depois o pós operatório foi complicado, porque fui eu a criar o meu molde e o meu dilatador vaginal. Em 2000 fiz a quarta cirurgia no público, pela Dra. Susana Monteiro e correu tudo bem. Foi uma nova adaptação.


Como foi ver essa mudança final?

Estas cirurgias não são fáceis, a recuperação é difícil. É preciso ser muito mulher para fazer o que fiz nestes anos todos, a minha luta pela minha identidade. Posso dizer que tenho uma vagina especial com pele de intestino e que a cavidade vaginal tem pele da minha coxa direita e está perfeito. Ainda é difícil fazer a dilatação vaginal, mas estou a fazer fisioterapia pélvica. Tenho prazer, libido, desejo e atinjo facilmente o orgasmo. A masturbação não é necessária porque tenho um marido atento.


Sente-se segurança a nível sexual?

Há determinadas posições que me deixam constrangida, porque a cirurgia ainda é recente. Estou muito sensível, devido a ser operada várias vezes, sinto um ardor sempre que atinjo o orgasmo, sendo este muito rápido e nunca houve sangramento.


Pensou alguma vez na maternidade?

Sim, tentei. Mas mais uma vez houve descriminação e preconceito, estou a pensar ir à Índia ou à Africa é tudo muito mais rápido.




Como é que uma relação sobrevive a isto tudo?

Com muito AMOR, tem que se amar muito o ser humano que passe por isto tudo, como eu passei estas monstruosidades. O meu marido esteve 1 ano sem me poder tocar e não procurou ninguém. Sem AMOR isto não fazia sentido e este supera tudo.


Sexualmente realizada. Vida feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda?

Sim, concordo. A frustração e a ansiedade acabam quando somos acarinhadas e se faz o AMOR, tudo corre melhor e a minha autoestima aumenta, tudo funciona muito bem.






O AMOR vence o preconceito?

O AMOR vence o maior preconceito, porque quando se ama não à defeitos, não à nada simplesmente luta-se pelos objetivos. O meu marido é a prova disso, deixou um clube onde era federado, impôs que os pais dele me aceitassem, nunca me escondeu e sempre me assumiu, isso é AMOR.


Fernanda Mendes, Parapsicóloga                              

Fernanda Mendes Terapias


 

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