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Sexualidade e Obesidade: Entendendo a Relação e Promovendo a Saúde Integral

Foto do escritor: LoveWithPepperLoveWithPepper

Atualizado: 20 de mar.



A sexualidade é uma parte fundamental da experiência humana, influenciando a forma como nos relacionamos connosco e com os outros. Quando pensamos em sexualidade, muitas vezes associamos a aspetos emocionais e físicos, mas raramente a consideramos em relação à saúde corporal de maneira abrangente. A obesidade, por sua vez, é um tema amplamente discutido em termos de saúde física, mas seus impactos sobre a sexualidade nem sempre são abordados com a devida importância.

A obesidade é uma doença caracterizada pelo excesso de gordura corporal, frequentemente resultante de um balanço energético positivo prolongado – ou seja, uma ingestão calórica superior ao gasto energético. É uma questão de saúde pública global, estimando-se em mais de 650 milhões de adultos em todo o mundo afetados. A obesidade está associada a uma série de outros problemas de saúde, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro. No entanto, as suas implicações vão além das condições físicas, afetando também a saúde mental e, inevitavelmente, a sexualidade.

O impacto da obesidade na sexualidade pode ser multifacetado, envolvendo tanto aspetos físicos quanto emocionais. A associação entre obesidade e disfunção sexual, pode acontecer em ambos os géneros: - nos homens pode ser causada por problemas vasculares, níveis reduzidos de testosterona e inflamação crônica, frequentemente observada em indivíduos obesos – nas mulheres pode estar ligada a problemas como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), que pode afetar a libido, além de causar irregularidades menstruais e dificuldade em alcançar a excitação sexual.

A autoestima e a perceção da imagem corporal podem estar negativamente afetadas pela obesidade. Isto leva a sentimentos de inadequação e insegurança a nível sexual. Muitas pessoas obesas enfrentam estigmatização e discriminação, o que pode gerar ansiedade, depressão e até mesmo aversão a atividades sexuais. Esse impacto psicológico pode diminuir o desejo sexual e prejudicar a capacidade de formar ou manter relacionamentos íntimos satisfatórios.

A pressão social de promoção de padrões de beleza irreais, associando a magreza a atratividade e sucesso sexual, aumentam a pressão sobre os doentes com obesidade. Estas pessoas, podem sentir que não se encaixam nesses padrões, o que pode gerar um ciclo de vergonha e isolamento. O medo da rejeição pode levar à evicção de encontros sexuais ou à aceitação de relações não satisfatórias.

Reconhecer os desafios que a obesidade impõe à sexualidade é o primeiro passo para os abordr de maneira eficaz. A educação sobre o estigma e a aceitação corporal são fundamentais para que a sociedade promova o conceito de que a plenitude sexual pode ser alcançada com qualquer tipo de corpo. Por outro lado, as pessoas com obesidade, muitas vezes com baixa autoestima e dificuldade com a sua imagem corporal, podem necessitar de intervenções psicológicas para transformar padrões de pensamento negativos. Nos doentes com relações ativas, a comunicação sobre as inseguranças e desejos é fundamental para promover uma compreensão mútua e assegurar a necessária intimidade emocional.

De forma a melhorar a saúde sexual, pode ser necessário realizar intervenções médicas quando associada a disfunções sexuais. Podem ser necessários tratamentos hormonais, intervenções para a disfunção eréctil ou para tratamento de condições como a síndrome do ovário policístico. A perda de peso, pode ser um fator importante para melhorar não só a autoestima como a saúde sexual em si própria, permitindo maior disponibilidade, energia e vigor. A prática regular de exercício físico, além de ajudar no controlo do peso, pode melhorar a circulação sanguínea, aumentar a energia, reduzir o stress e realçar a imagem corporal.

A cirurgia metabólica pode surgir como uma importante ferramenta para a normalização do peso corporal. À medida que ocorre a perda de peso, muitos doentes relatam melhorias na sua perceção corporal e aumento da autoestima e da confiança para relações íntimas. Muitos sente, efetivamente uma redescoberta da sua sexualidade. Algumas alterações hormonais, associadas à redução do tecido adiposo podem contribuir para um aumento da líbido, essencialmente em mulheres. A alteração da sua imagem corporal, reforçada pela instituição de estilos de vida saudáveis e pela prática de exercício físico, associa-se muitas vezes a uma redescoberta da feminilidade em muitas mulheres (sentindo-se mais confiantes e tendo mais vontade de se auto-cuidar) e da virilidade em alguns homens (com uma nova atitude mais saudável e enérgica). No entanto, os resultados não são uniformes e algumas pessoas enfrentam desafios pessoais na sua adaptação à nova imagem corporal, Questões como o excesso de pele residual ou mudanças na dinâmica conjugal podem gerar novas inseguranças e conflitos. Daí que é essencial um acompanhamento psicológico, ajudando os doentes a lidar com a sua nova realidade e a explorar plenamente os benefícios da sua transformação física e emocional.

A relação entre obesidade e sexualidade é complexa e multifacetada. A obesidade pode causar grande impacto no bem-estar físico, psicológico e também sexual. É importante destacar que o peso corporal não é o único determinante da saúde sexual. Para promover uma vida sexual satisfatória para todos. A sexualidade saudável é um componente essencial do bem-estar integral e todos merecem esta oportunidade. Sem romantizar a condição clínica, é fundamental promover a aceitação corporal, desenvolver os tratamentos necessários e reduzir o estigma associado à obesidade, permitindo que estas pessoas possam desabrochar em toda a sua plenitude.

A sexualidade saudável é um componente essencial do bem-estar integral, e todos merecem a oportunidade de vivê-la plenamente, independentemente das condições físicas. Ao avançarmos nessa direção, podemos contribuir para uma sociedade onde todos os corpos são valorizados e onde a sexualidade é vivida como uma expressão natural e positiva da vida humana.

Prof. Dr. Gil Faria, Cirurgião

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