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Inês Marinho, Associação #NãoPartilhes



Inês Marinho, uma jovem de 24 anos, estudante de jornalismo e comunicação audiovisual, ativista comunista portuguesa. Luta pelos direitos das mulheres e a sua maior luta é contra o abuso sexual feito por imagens online. nunca pensou ver a sua intimidade exposta na internet.

Aos 15 anos, Inês viu as suas fotografias em bikini serem partilhadas num grupo nas redes sociais, embora não se importasse muito porque não iriam encontrar imagens mais íntimas, continuou então a postar: “Não ia deixar de ser livre”.


Aos 21 anos, quando esta jovem recebe uma mensagem de um colega a dizer que tinha um vídeo íntimo dela que estava a ser partilhado, apresentou queixa e falou com a família.


Criou a Associação “Não partilhes”, em que começou com um movimento no seguimento de “ter sido sobrevivente de um destes crimes”. A associação promove palestras para consciencializar o público para crimes de partilhas indevidas.


Na entrevista ao Love with Pepper fala-nos desta prática tão praticada pelos jovens, dos perigos e alertas, e também do impacto que teve na sua vida.


O que é o Sexting?


É a partilha e troca de conteúdos íntimos e sexuais, como áudios, chamadas, vídeos ou imagens através de meios online, ou seja, usando uma rede social, MMS, telefone ou um dispositivo informático.


Como é que lhe aconteceu isto na sua vida?


No final de 2019, comecei a receber mensagens que tinha um vídeo meu íntimo a ser partilhado nas redes sociais.


Na altura tinha algum relacionamento?


Sim, o relacionamento que tinha na altura é o que tenho hoje.


Qual o impacto que esta situação teve na sua vida?


Na 1ª semana não conseguia falar com ninguém, isolei-me e andava muito nervosa. Mas como tenho uma família que me educou de uma forma exemplar e apoiam-me em tudo quer no bom ou mau, ajudaram-me a superar esta situação. O meu namorado, amigos e as pessoas mais próximas não me apontaram o dedo nestes 3 anos, por incrível que pareça.


Quantas vezes esta prática lhe aconteceu?


Infelizmente esta situação já me aconteceu várias vezes, mas de conteúdo íntimo só uma vez.


Com que idade lhe aconteceu na 1ª vez?


Aconteceu-me em 2019, tinha 22 anos.


As suas fotos/ vídeos tinham componente sexual?


Sim, os vídeos tinham componente sexual explicito.


Chegou a ser chantageada?


Sim, mas de nada valeu porque eu já tinha contado a toda a gente.


O porquê do envio do vídeo?


Considero perfeitamente normal porque em tempos de pandemia ficamos isolados de tudo e de todos e também como sou uma pessoa livre em todos os sentidos, e também a nível sexual, gosto de partilhar este tipo de conteúdo com o namorado, fi-lo de livre vontade.


Tem conhecimento que as suas fotos/ vídeos chegaram a ser vendidas?


Tenho quase a certeza que sim, porque recebia mensagens a perguntar se era prostituta e onde seria possível encontrar as minhas fotos/vídeos, daí ser possível alguém ter esses conteúdos e vendê-los.


Chegou a descobrir quem lhe fez isto?


Nunca descobri, mas tenho as minhas desconfianças.


Sentiu-se humilhada ou traída?


Humilhada não, traída e enganada sim, porque tentar humilhar-me a mostrar o meu corpo era impensável, visto que eu amo o meu corpo.


Apresentou queixa?


Sim, várias queixas, mas não deu em nada. A primeira queixa em 2019 foi arquivada, e o rapaz que desconfio me fez isto tudo também fez com várias raparigas e estas também apresentaram queixa. Os processos foram arquivados.


Alguma vez sentiu-se um objeto sexual?


Porque incrível que pareça nunca o senti, mas por vezes devido à minha fragilidade como mulher tenho pensamentos menos bons o que faz com que pense que por vezes os homens me vejam como tal, mas o lado bom é que esses pensamentos passam rápido.


De que forma esta situação lhe afetou na sua vida afetiva?


Tinha receio em ver algumas pessoas, especialmente homens e quando saía à rua sentia-me perseguida e tinha a sensação que me estavam a filmar e fotografar, tanto é que tive que procurar ajuda psicológica.



Como a sua auto -estima foi afetada?


O meu passado fez com que eu tivesse problemas com o meu corpo e a minha auto -estima foi muita afetada devido a um cancro, mas hoje em dia gosto do meu corpo e sinto-me confortável com ele e gosto daquilo que vejo e isso é o que mais importa.


É fácil voltar a gostar e confiar em alguém?


Eu como já tinha um espaço seguro e da minha confiança à minha volta, foi muito complicado eu voltar a confiar em pessoas fora do meu círculo de amigos especialmente de há 2 anos para cá devido a esta situação toda.


Alguma vez esta situação afetou a libido, desejo?


Infelizmente sim. Sempre fui uma mulher aberta e livre a nível sexual e neste momento sinto-me muito retraída e inibida.


E no sexo sente confiança?


Muito menos que sentia antes, mas felizmente estou a trabalhar este campo da sexualidade.


Como foi retomar a vida sexual depois destes episódios?


Retomar a minha vida sexual depois deste atentado à minha privacidade tem sido uma longa luta. Passaram-se quase 4 anos e não consigo dizer que a minha vida sexual está como antes. Sinto-me inibida e com menos libido.


Com esta situação toda, a nível sexual considera que a mulher se inibe mais na prática do ato?


Sim e considero que é um trabalho, uma luta que tem que ser feita e quero mudar isso, porque as mulheres têm que ser livres.


Voltar a confiar num homem é fácil?


Sinceramente na verdade sempre foi difícil eu confiar tanto nos homens como nas mulheres, e agora sabendo da minha história ainda torna-se mais complicado, e como já tenho a minha família, amigos e namorado, não vejo necessidade de entrar mais pessoas na minha vida.


Como é vista na sociedade?


De certeza absoluta que sou vista como uma mulher resiliente que dá a voz pelas mulheres que sofrem da prática deste crime e que não concorda com a masculinidade tóxica dos homens.



Nos dias de hoje sente-se uma mulher livre?


Sinto-me uma mulher livre e nunca deixarei de o ser.


Hoje em dia envia fotos/ vídeos íntimos a alguém?


Sim, quando me apetece.


Como nasceu a Associação #NãoPartilhes?



Nasceu em finais de 2020, passado um ano dos meus vídeos serem partilhados. No entanto, como tive o privilégio de ter o apoio e ajuda da minha família, amigos e namorado e percebi que existiam muitos jovens que não tinham o apoio que eu tinha e tenho, então decidi criar um espaço seguro, e em 2021 surgiu a associação.


Qual o objetivo? O que faz?


O principal objetivo da #NãoPartilhes, é consciencializar a sociedade para que esta esteja preparada para lidar com estas vítimas e sobreviventes. Também apoia, aconselha e encaminha para onde as vítimas possam ser ajudadas e não julgadas. Sinto que estamos no caminho e que já existem homens (vítimas) que nos procuram para ajudar.


Sente-se que a Associação tem uma missão na vida destas pessoas?


A missão é educar e prevenir para que não haja mais esta prática de crimes.


Quem faz mais a pratica deste crime são os homens ou mulheres?


Segundo estudos quem pratica este tipo de crime são pessoas do género masculino, mas também existem pessoas do género feminino.


Na sua opinião, quem partilha mais fotos/vídeos são pessoas do género masculino ou feminino?

Sinceramente acho que deve ser igual, mas acredito que as mulheres são mais pedidas para o fazerem.


Sexualmente realizado. Vida feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda?


Sim, porque se somos uma pessoa sexual e à partida se a nossa sexualidade está bem resolvida e saudável, acredito que a nossa vida seja feliz.


O sexo é bom?


O sexo é bom, mas nos últimos anos tenho tido dificuldades em apreciar o sexo como apreciava, mas espero que isto se resolva para me sentir livre sexualmente.


Inês Marinho, Criadora de Conteúdos Digitais

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