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… e porque TUDO é POSSÍVEL, por Nuno Abreu Simões

Foto do escritor: LoveWithPepperLoveWithPepper


Nuno Abreu Simões, tem 45 anos de idade e é natural de Lisboa. Casado, é pai, estudou Medicina- a sua especialidade é a Cirurgia Geral- e é tetraplégico.


Apaixonado por desporto, toda a sua vida praticou remo e bodyboard. Em 2021, aos 41 anos, teve um acidente a fazer bodyboard; uma onda atirou-o para o fundo do mar e bateu com a cabeça. Essa onda provocou-lhe uma lesão grave a nível da cervical e ficou tetraplégico.


No momento do acidente, teve noção que o seu estado clínico era complicado e que não era apenas momentâneo, mas no hospital fez vários exames e aí detetou-se que havia uma fratura. Assim, teve conhecimento da sua situação no mesmo dia do acidente.


Após o diagnóstico o processo foi muito doloroso, não só do ponto de vista físico como emocional. Contudo, recorda que, a partir de um tempo, com o apoio da família, amigos e de todo o seu núcleo deixou o passado para trás e seguiu em frente, com tudo e todos.

 

Conheceu a sua mulher, a Marisa, num café e como homem atrevido que se assume meteu-se com ela, estando ele de canadianas. Começaram a namorar em pouco tempo. Passado algum tempo, começaram a viver juntos e nasceram dois filhos, fruto desse amor. Descreve a sua mulher como uma pessoa muito simples, com uma boa energia, despreocupada e acima de tudo extraordinária. O pedido de casamento foi feito pela Marisa nos cuidados intensivos, quando este pensava que ela o ia deixar, estando ele naquela condição. O dia do casamento foi um dia lindo em que estavam as pessoas mais importantes, assume que foi o seu maior ato de amor e acredita que é para toda a vida.


Apesar de tudo nunca sentiu insegurança em todos os campos, quer enquanto homem, quer como elemento de um casal.


Trabalhou como cirurgião na unidade da mama da Champalimaud Foundation, entre 2019 e 2020. Profissionalmente a cirurgia deixou de ser a sua opção, mas nunca deixou de ser médico. Por isso, criou o Doutor Nuno Abreu, (www.drnunoabreu.pt ) um projeto seu e que representa uma nova jornada no seu novo caminho.


Hoje está envolvido em grupos de estudo internacionais na área da lesão medular e presta apoio à Nova Medical School, colaborando no gabinete de educação médica.


Nesta entrevista ao Love with Pepper, Nuno fala-nos enquanto homem e médico que na vida tudo é possível e que o amor vence.


Como lida com o seu corpo e de que forma lhe afetou a sua autoestima e saúde mental?

É muito difícil ver o meu corpo, os espaços são muito restritos, portanto, há pouca maneira de me ver vestido. Não tenho muita oportunidade de ver o meu corpo, é estranho, mas às vezes vejo-o rapidinho. Quando estou ao pé do espelho, olho, vejo que tenho uma barriga grande, que não tinha, que tem a ver com a tetraplegia e parece que cria um conflito que não é agradável de todo.


Como é viver a sexualidade nesta condição?

Temos que ser muitos criativos, mas tudo é possível.


De que forma a sua condição afetou a libido, o desejo e a excitação?

A libido e a vontade posso dizer que é igual, mas quanto à excitação alterou-se um bocadinho.


Qual a parte do corpo que tem mais prazer?

Resposta difícil, porque nós, tetraplégicos, perdemos muita sensibilidade no nosso corpo. Mas tive a sorte de não perder a minha sensibilidade do tronco para cima, sendo uma forma de eu sentir e de estar completamente diferente.


É possível estar nesta condição e ter uma vida sexual prazerosa e satisfatória? Quais os desafios que enfrenta?

A sexualidade é muito mais que a penetração, é tudo diferente e é tudo uma adaptação a uma nova realidade.


Quais os obstáculos que encontrou em relação à sexualidade na deficiência?

No fundo, como temos o corpo desconectado toda a nossa sensibilidade é menor.


Quando ficou nesta condição alguma vez pensou que a Marisa o ia abandonar?

Sim, pouco depois do acidente pensei que nós não íamos sobreviver enquanto casal.


Como é que acha que a Marisa vê o seu corpo?

Com muito carinho, com muito amor e com muita paixão, mas às vezes sou muito chato.


Algum profissional de saúde abordou o tema da sexualidade consigo e o Nuno sentiu necessidade de o abordar com alguém da área? 

Sim, houve uma médica que me falou sobre isso. Mas na altura não senti a necessidade de abordar esse assunto, apesar de pensar que é útil e perceber bem qual é o momento. Quando fui à Suíça, um outro medico abordou o assunto e achei a conversa mais produtiva.


Em pleno século XXI, considera que ainda existem tabus e preconceitos em relação a quem tem relacionamentos amorosos e sexuais com pessoas com algum tipo de deficiência física? 

A nossa sociedade fica sempre surpreendida por haver casais em que algum dos dois tem alguma condição física ou mental e ficam quase sempre na dúvida sobre se há mesmo amor ou não. Contudo acho que já há uma maior aceitação e inclusão destas pessoas.


O que falta fazer em Portugal no nosso SNS pelas pessoas com deficiência?

Falta cumprir as acessibilidades que estão na lei. Os próprios hospitais não são acessíveis para quem tem deficiência, qualquer tipo de limitação e para idosos. Existem muitos passeios altos, escorregadios, com buracos, com calçada.


Sente-se um homem seguro a nível sexual?

Apesar da minha fragilidade, posso dizer que sim.


Apesar de todas as adversidades o sexo é bom?

Sim e é fundamental na vida.


Sexualmente realizado. Vida feliz. É o lema do Love with Pepper, concorda? 

Não porque a sexualidade não significa uma vida feliz. Mas é uma parte importante e fundamental da nossa vida.


O #Amor não tem diferença?

Não tem diferença e enquanto casal fortaleceu e cresceu, não foi um acidente que me deixou nesta condição que fez com que acabasse tudo.


Nuno Abreu Simões, Médico

                                      www.drnunoabreu.pt

 

 

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