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Célio Dias, o Amor não tem Raça e Género



Célio Dias, 28 anos, negro, homossexual, campeão de judo, modelo e esquizofrénico, assume-se como ativista pelos direitos da comunidade LGBTQIA+, pelo racismo e pela saúde mental.


Nasceu em fevereiro de 1993, e passando um mês foi adotado por uma família angolana branca, a sua infância foi passada no Monte da Costa da Caparica, em que aos 13 anos entra no mundo do Judo, onde se sagra campeão nacional de juvenil, em que a partir começaram a dar as primeiras internacionalizações em que permitiram formar uma carreira solida, mesmo no judo mundial (venceu várias medalhas) e participou nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.


Assume-se como uma pessoa que gosta de desafios e de enfrenta-los. Apaixonado pela a escrita, literatura e filosofia. Adora a vida e acima de tudo ama a sua família e agradece todos os grandes valores que lhe foram incutidos.


Reconhece que é um homem muito sensível aos que o rodeiam, amigo do seu amigo.

Nesta entrevista abre o seu coração e fala-nos das barreiras que tem encontrado devido à sua cor da pele, à orientação sexual e mesmo devido à doença mental de que padece.



Como se define como Homem?


Sou uma pessoa perdida na própria ilha, refiro-me que sou uma pessoa que estou sempre em busca da minha melhor versão. Tenho consciência que sou um jovem negro que batalha para ter um mundo mais justo e equilibrado.


Considera-se um Homem romântico? É ciumento?


Romântico sem duvida que o sou, quanto ao ciumento muito pouco.


Neste momento como está o seu coração?


Encontra-se bem, tranquilo, em paz comigo próprio, mas não estou a namorar.

Encontrei o meu caminho, algum tempo que passa pelo o ativismo relacionado com a saúde mental. Sinto que estou alinhado com o meu propósito de vida e então o meu coração está calmo e sereno .


Como define o companheiro ideal para si?


A nível físico, sem duvida o sorriso e os lábios. A nível psicológico, o caráter e os valores.

Não existem homens ideais e sim existem tempos e oportunidades ideais.


Pensa em ser pai um dia? Ou na adoção?


Não tenho a certeza desse caminho.



Acha que o facto de ter sido criado num bairro social, interferiu no seu percurso de vida?


Não , pelo contrário. Só me deu mais oportunidades , e como sou uma pessoa que vê a oportunidade em cada dificuldade , e todas a dificuldades e desafios que passei, foram ultrapassados com sucesso e fazem de mim o Homem que sou hoje.


Sendo o Célio adotado pela uma família angolana branca, acha que o facto de ser negro pode ter afetado as suas relações?


Afetou-me das mais variadas formas, mas quando entendi a minha homossexualidade, eu próprio me compreendi enquanto Homem. Até aos dias de hoje sofro alguns preconceitos e descriminação. No entanto encaro isso como armas de arremesso em que tenho a oportunidade de crescer e de ser uma pessoa melhor.


Sente que o facto de ser de raça negra já o impediu em algum relacionamento?


Não, porque relaciono-me com qualquer pessoa.


O judo é considerado a sua zona de conforto e refúgio?


Claro que sim, todos nós temos que ter fontes de abrigo. Sou um atleta com uma carreira de 15 anos , e o judo permite validar a minha personalidade e as minhas competências. Quero que esta modalidade seja a minha companheira de vida.


Alguma vez sentiu o preconceito por parte dos seus colegas em relação à sua homossexualidade no desporto?


Não, pelos menos que eu sentisse.



Quando é que sentiu que a sua orientação sexual era diferente?


Para ser sincero e honesto sempre me apercebi que a minha orientação sexual era diferente, desde muito cedo, diria por volta dos 5/6 anos, até porque sempre senti atração por pessoas do mesmo sexo que o meu.


Como reagiu a sua família?


Contei aos 18 anos e a minha família reagiu muito bem. Curioso que a minha Mãe desconfiava e no momento em que lhe disse ela não ficou surpreendida, pois já o sabia.


Alguma vez teve que esconder a sua orientação sexual em alguma situação da sua vida?


Não tinha por hábito falar da minha orientação sexual, mas quando assumi nunca tive qualquer problema em falar abertamente e com naturalidade.


Alguma vez sentiu preconceito por parte da sociedade relativamente a sua orientação sexual e cor de pele?


Relativamente à minha orientação sexual nunca senti, até porque acho que tenho uma aparência que impõe algum respeito, mas só por essa razão. Mas relativamente à minha cor de pele sim, por vezes sofri algum preconceito e descriminação, nomeadamente na escola.



Como é que a moda apareceu na sua vida?


Apareceu aos 18 anos, num desafio que eu abracei, uma oportunidade de crescimento e que me abriu portas.


Como é que com lida com o assédio?


Naturalmente, sendo normal o ser humano lidar com o assédio, pois todos nós temos de explorar, investigar e apreciar quem nos interessa, acho curioso e não me incomodo nada com isso.

Quanto ao assédio feminino, não me faz qualquer tipo de confusão, é normal atrair mulheres e homens, enquanto ser humano tenho que agir com naturalidade.


Sente-se um homem desejado?


Sem duvida que sim, a todos os níveis. É bom sentir isso!




Com que idade lhe foi diagnosticada a esquizofrenia?


Foi aos 23 anos.


Quais as barreiras que lhe trouxeram a esquizofrenia?


A esquizofrenia trouxe-me algumas barreiras tais como as sociais, a dos obstáculos internos que são situações que não estão resolvidas dentro de nós e as do stress que são as que mais nos fragilizam.


De que modo é que a sua doença mental afeta a sua vida sexual?


No meu caso não senti nenhuma interação.

Hoje no meu dia-a-dia , tenho a minha doença controlada, faço terapia semanal com o psicólogo, e de dois em dois meses com a psiquiatra, onde tenho a consciência de tratar da minha saúde mental, mas esse fator não impede que eu tenha qualquer limitação sexual, mesmo com a medicação diária ao qua estou sujeito.


De que forma a doença mental lhe afeta a sua libido?


Não me afeta em nada. A medicação no inicio teve esses contratempos, mas agora no meu dia-a-dia já não acontece.


Sente-se seguro a nível sexual com estes obstáculos todos?


Eu não sinto que tenha um obstáculo, embora sinta que, pelo fato de ser esquizofrénico, esteja mais desprotegido e e indefeso a mais obstáculos.


Sente que o facto de ter uma doença mental alguma vez foi impedimento ou entrave para algum relacionamento?


Sem duvida que sim, ainda existe muito preconceito, quer a nível intimo e de confiança, normalmente tenho que me apresentar e descrever o que é a minha doença.

Geralmente, as pessoas que que convive comigo , têm que perceber na realidade quem eu sou e o que a esquizofrenia é.

Mas que é uma entrave quer intimo, quer a nível sexual , não tenho que duvidas que sim.


Como lida quando não se é correspondido ou se é rejeitado?


Felizmente lido bem. Embora tenha a noção do que, do outro lado sinta que se está a perder a oportunidade de me dar a conhecer, de crescer e não é por ter uma doença psíquica que me torno menos ou mais do que ninguém.

Temos que aprender a lidar com as rejeições ao longo da vida e é um sinal de aprendizagem.


Qual o maior ato de amor que fizeram por si e que você fez por alguém?


O maior ato de amor que nós podemos fazer, é dedicar-nos 100% a alguém quer na presença, quer no afeto, esse foi a maior ato de amor que me fizeram por mim e que eu fiz.


Como define o seu percurso de vida com 28 anos?


Defino numa só palavra: arrebatador.


O amor cura?


O amor salva.


O amor vence o preconceito?


O amor é uniforme, vence tudo!

Como diz o Nelson Mandela o amor tem a capacidade de rir na fase de estudo de qualquer tipo de preconceito.


O amor não tem raça?


O amor não tem raça, o amor tem todas as cores, gestos e é amplo.


Célio Dias, Atleta Olímpico






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