A Dança Não tem Género, por Eríc Santos
Eríc Santos, de 29 anos, nasceu em Pombal e atualmente vive no Porto. Licenciado em dança pela Escola Superior de Dança de Lisboa. A sua atividade profissional é a Dança, e trabalha como interprete há cerca de 7 anos.
É uma pessoa sensível que ama a dança e adora sentir a liberdade que esta lhe proporciona.
Eríc assume-se como uma pessoa trans masculina, não tendo necessidade de se encaixar em binarismos de género.
Hoje está a desenvolver os seus primeiros trabalhos como criador.
Nesta entrevista ao Love with Pepper, Eríc fala-nos das dificuldades e adversidades enquanto pessoa não binária e explica o que é a não binaridade.
Como define o amor?
O amor é o respeito que o ser humano tem pelo outro, independentemente dos ideais que se possa ter e da maneira como se pensa e age, apesar da diferença que te respeitem de uma forma igual e natural como os outros.
O que é a sexualidade?
A sexualidade é um todo, desde a tua orientação sexual, a identidade de género, dos carateres sexuais e a forma como nós nos apresentamos socialmente também define a sexualidade.
Para si o que é uma pessoa não binaria?
É uma pessoa que não é homem nem é mulher, ou seja, podemos estar aqui a falar de um 3º género, para se entender melhor o conceito de não binaridade. No entanto esse terceira género inclui multiplicidades, concluindo o género como algo específico da identidade de cada pessoa.
O facto de ser uma pessoa não binária sofre o preconceito na sua atividade profissional?
A nível profissional como bailarino respeitam-me muito, mas tenho plena noção no tipo de trabalhos que procuro.
Como é para uma pessoa não binaria constituir família?
Nós temos de perceber que todos somos seres humanos, todos somos pessoas e que com isso podemos construir tudo o que quisermos. A nível de relacionamentos, óbvio que há pessoas que nós gostamos dentro do nosso padrão social que não estão dispostas a relacionar-se com uma pessoa como eu. Mas isto vai ao encontro dos padrões e das mentes da nossa sociedade. Aqui também é entender que o conceito de família pode ser resignificado. Esta pergunta é complexa, porque quando falamos de pessoas não binárias estamos a falar de um espectro muito grande. Penso que o conceito de família tradicional não se aplica a várias pessoas dentro ou fora da sociedade queer.
Qual a sua orientação sexual?
Como sou uma pessoa não binaria, nem homem, nem mulher fica difícil a resposta. Sempre gostei e tive relações com o sexo feminino até à data. Como definir não sei!
É fácil encontrar o amor, ter relações sendo não binário?
O amor está dentro de nós e se encontras o amor em ti depois podes encontrar alguém que se encaixe na tua vida e que juntos possamos construir uma vida em paralelo.
Como é a aceitação da família, amigos e a nível profissional?
No meio social como já referi foi mais fácil, quanto à família já foi um bocadinho mais difícil no sentido de os meus pais e familiares não estarem preparados para a mudança de um filho nem na troca de pronomes, mas tudo é uma questão de compreensão e de aprendizagem.
Quando se entendeu enquanto pessoa não binária?
Esta afirmação não foi de um dia para o outro. Com o tempo fui-me apercebendo que não me encaixava na sociedade e que também não me identificava com o que as pessoas me chamavam sem conseguir perceber a minha real identidade. Ao longo deste tempo, comecei a procurar e a ter mais informação, mas a nossa consciência resiste e entre os 20/ 24 anos tive a noção que era uma pessoa não binária. Foi a partir daí que começou o meu percurso de auto determinação.
Procurou ajuda terapêutica?
Não necessitei, apenas procurei ajuda na transição hormonal.
Como é a sua experiência como pessoa não binária no nosso contexto (Portugal)?
É muito difícil a nível de linguagem e também das pessoas perceberem o que é a não binaridade. A comunicação para a sociedade é muito complicada, porque esta não está preparada para comunicar com pessoas como nós, normalmente tenho que ensinar as pessoas a comunicar comigo. No meu caso, eu optei por pronomes masculinos, porque percebi que os neutros são muito difíceis e sei que em Portugal vai ser muito complicado ter uma linguagem neutra.
Nos dias de hoje, sentes alguma descriminação devido à tua afirmação?
Sinto ignorância e como consequência a descriminação. Como referi também decido não frequentar alguns lugares e não estar com algumas pessoas onde sinto que já vou receber algum julgamento ou sentir que não consigo comunicar.
O que acha que devia ser feito a nível legal e de políticas públicas?
O tema é muito sensível para o mundo e temos que estar preparados para receber e entender a não binaridade. A nível legal e de políticas já foi feito alguma coisa em termos de leis, mas falta praticar essas leis e informar as pessoas que estas existem.
O amor vence o preconceito?
Sim, depende da definição que damos à palavra. Acredito que se o amor for verdadeiro e se este estiver dentro de nós vence tudo. E as nossas ações têm de ser coerentes com essa palavra.
Eríc Santos, Bailarino
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